Notícias > Tecnologia é aliada contra desperdício de água na agricultura
“O maior desperdício de água que se pode realizar é quando a agricultura não é bem conduzida. Por isso, a atenção deve ser redobrada nas técnicas de condução de cultura, calagem e adubação”, alerta Flávio Arruda, engenheiro agrônomo e pesquisador do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), especialista em manejo de água para irrigação de culturas. “A decisão do quando e quanto aplicar é uma das etapas mais críticas e recorrentes no processo de irrigação e merece mais atenção por parte do produtor irrigante e pela sua assistência técnica” destaca o pesquisador.
Para auxiliar o agricultor no uso racional de água, existem produtos inteligentes que monitoram o “quando e quanto” da irrigação. Um desses produtos é o sistema ECH2O, da Decagon Devices, empresa norte-americana distribuída no Brasil pela Ag Solve. De acordo com Flávio das Neves Barbosa, engenheiro agrônomo e técnico da Ag Solve, seus sensores de precipitação e de umidade do solo permitem descobrir se os níveis de umidade são aceitáveis para o bom desenvolvimento das culturas. Os sensores em profundidades maiores monitoram a quantidade de água que infiltrou e já não pode ser aproveitada. Além disso, o ECH2O monitora a umidade e temperatura do ar auxiliando na determinação da evapotranspiração, ou seja, o quanto de água que se perde para a atmosfera na forma de vapor. “Assim, por meio deste balanço e monitoramento é possível economizar de 30% a 50% no uso de água na irrigação”, afirma Barbosa.
De acordo com Arruda, a utilização racional da irrigação na agricultura passa por três aspectos importantes: planejamento, manejo e avaliação. “Quanto ao planejamento, é preciso pensar antes de usar a terra e fazer a sucessão de culturas. Além disso, é recomendável possuir um projeto técnico do sistema de irrigação. O manejo, ou seja, a operação do equipamento de irrigação também é um aspecto relevante. Deve ser realizada freqüentemente a manutenção e conservação desses equipamentos, em especial no período da seca. Sobre a avaliação, é recomendado um teste de distribuição de água, com a determinação da taxa de aplicação de água (mm/h) e a eficiência de irrigação. Além disso, uma auditoria em todo o sistema de irrigação para identificar os problemas de desperdícios e ineficiências. O resultado é uma avaliação do desempenho agrícola decorrente dos gastos de água e energia”.
“A adoção da irrigação racional envolve um certo conhecimento técnico e utilização de serviços, que vão além do projeto hidráulico do equipamento de irrigação. Sem dúvida alguma, não se pode admitir um sistema de irrigação que não tenha sido fruto de um projeto técnico realizado por profissional da área”, ressalta Arruda. Para Barbosa, saber as condições do solo para irrigar é importante também para coibir exageros, pois “caso ocorra excessos de irrigação muitos dos nutrientes aplicados na fertilização do solo poderão ser lixiviados ("carregados") para o lençol freático. Além de prejuízo para o agricultor esse fato torna-se um dano ao meio ambiente devido a contaminação das águas subterrâneas”.
Segundo Arruda, as informações usadas na irrigação “devem ser baseadas nas determinações de taxa de aplicação de água e eficiência de irrigação e nas condições locais de cultura, solo e clima”. Para determinar esses fatores o sistema ECH2O possui dataloggers e sensores espalhados pela área que se deseja monitorar, com a opção de se utilizar comunicação via rádio. O Barbosa explica que, por exemplo, “os sensores de umidade do solo possibilitam ao produtor conhecer qual profundidade molhar, como se
comportam as raízes em função da demanda hídrica e qual é a situação hídrica do solo em função do tempo (drenagem e infiltração). O agricultor também pode se informar de como está o transporte e armazenamento de nutrientes dissolvidos e a quantidade de água prontamente disponível para as plantas. Já, outros sensores como o de molhamento foliar medem a duração do período de orvalho em que existe umidade na folha a qual possui correlação com o desenvolvimento de doenças. Isto possibilita prever o momento ótimo de
desenvolvimento de doenças e assim tomar medidas preventivas”.
Para evitar desperdícios, o pesquisador recomenda checar se não há vazamentos por tubos de irrigação desalinhados ou com vedações ressecadas, cortadas ou com areia. A troca das vedações, lavagem das tubulações após a montagem e o alinhamento dos mesmos, a substituição de tubos ou acessórios danificados resolve o problema. Muitos aspersores são usados com bocais plásticos desgastados, molas de acionamento frouxas e necessitam de reparos para uniformização do giro. Estas são soluções simples de baixo custo com resultados significativos na redução do desperdício de água”.