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Publicado em 17/05/2013
Qualidade da água na Billings

Represa Billings, um dos maiores e mais importantes reservatórios do estado de São Paulo, sofre com o acúmulo de lixo e despejo irregular de esgoto  o que gera a proliferação de cianobactérias e riscos à população que utiliza sua água

Não é de hoje que a represa Billings recebe uma quantidade imensa de esgoto, entulho e lixo, o que interfere diretamente na qualidade da água da represa. Todos os dias, uma enorme quantidade de móveis, óleo, pilhas e até mesmo carros inteiros são lançados dentro do reservatório, que ocupa uma área de 582 km². Além disso, uma grande quantidade de esgoto doméstico e industrial é depositada no local. Tudo isso, na água que é distribuída nas torneiras da população.

Estudo da Universidade de São Paulo (USP) de 2010 mostrou que o fundo da represa está contaminado com metais pesados. Chumbo, cobre, níquel e zinco foram alguns dos elementos químicos encontrados. Esse tipo de contaminação pode comprometer a qualidade da água e a exposição prolongada pode provocar uma série de doenças, inclusive câncer. A contaminação do solo do reservatório é atribuída ao esgoto despejado irregularmente por casas e indústrias, já que em alguns trechos, os pesquisadores detectaram a presença de cobre em quantidade 30 vezes acima do nível de segurança recomendado por agências internacionais de saúde.

O pesquisador e docente da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP/ USP), José Luiz Negrão Mucci, comenta que de modo geral, a qualidade da água da represa Billings está ruim. “A represa acaba servindo como um depósito de lixo. Ela mesma vai se depurando, então, há regiões em que a água está um pouco melhor, em outras está pior, mas de modo geral a qualidade não é considerada boa”.

Para o especialista em instrumentação hidrológica da empresa Ag Solve, Mauro Banderali, a péssima qualidade da água da represa Billings é um dos maiores problemas ambientais do estado. “Juntamente com a represa Guarapiranga, a Billings abastece cerca de 4,5 milhões de pessoas na capital e na Grande São Paulo, ou seja, muita gente depende dessa água, que hoje está em péssimas condições. Por isso, ações como a captação e o tratamento do esgoto, que é despejado irregularmente na represa, devem ser implantadas com urgência, para que a qualidade da água não piore nos próximos anos”, aconselha.

Um problema chamado esgoto

Mucci, da USP, conta que a represa Billings na verdade, foi construída nas décadas de 30 e 40 para gerar energia elétrica para a usina Henry Borden, em Cubatão (SP). “Como ela foi criada basicamente pra gerar energia elétrica, não se levou muito em conta a qualidade da água, pois só se precisava da água para mexer as turbinas e gerar energia. Então, a água foi sendo degradada até chegar nessa situação e o problema foi agravado pelo crescimento desordenado das cidades, pela presença de casas em locais inapropriados e, no fim da história, pelo lançamento de esgoto”.

Sujeira espalhada em volta da Represa Billings. Foto: Flickr Airton Goes

O professor salienta que os resíduos sólidos, caminhões, sofás, carros e todas as coisas que podem ser encontradas na represa Billings, acabam alterando a qualidade da água, mas isso demora um pouco mais. “O problema mesmo são os esgotos.

Não estou dizendo que não é problema ter lixo, mas no caso do tratamento da água, o problema maior é o esgoto, é o excesso de matéria orgânica. Toda essa matéria orgânica vai ser decomposta e acabar servindo de nutrientes, alimentos para organismos, principalmente para algas e a presença dessas algas é o que acaba influenciando o tratamento da água depois”, confirma o professor.

Consequências das algas para o tratamento da água

Algumas classes de algas chamadas cianobactérias, sob certas condições produzem toxinas, quando há nutrientes em excesso. “O que acontece é que essas toxinas alteram o gosto e o cheiro da água, e, muitas delas acabam passando um pouco pelos processos de tratamento e chegando na casa das pessoas. E qual é a consequência maior para população? Além do gosto e do cheiro que ficam na água, as faixas etárias mais sensíveis, como crianças e idosos, podem ter um certo desconforto gastrointestinal, em razão dessas toxinas”, detalha o pesquisador da USP. De acordo com Banderali, tais toxinas afetam o sistema neurológico, o fígado, as células e  podem resultar no envenenamento de quem a ingere.

Mas será possível minimizar as consequências dessas toxinas produzidas pelas algas? Conforme explica Mucci, primeiro é preciso lembrar que na Billings a água para abastecimento é retirada somente de dois locais: do braço Riacho Grande e do braço Taquacetuba e nesses locais, a qualidade da água é um pouco melhor. “Mesmo assim, a primeira coisa que se faz é matar essas algas na represa, por meio de algicidas. Matar essas algas evita que elas entrem no sistema de tratamento. Para tentar remover essas toxinas, numa determinada fase do tratamento, a água passa por uma coluna de carvão ativado. Esse carvão ativado é capaz de reter as toxinas, de modo com o que acaba passando é uma quantidade relativamente pequena, mas que mesmo assim altera o cheiro e o gosto da água”.

Segundo Banderali, a tecnologia é uma grande aliada no monitoramento e na detecção de algas e cianobactérias e pode contribuir   na prevenção do aumento destes organismos. “A Ag Solve possui duas soluções tecnológicas de monitoramento exclusivas, que são as sondas fixas ou portáteis  da linha Aquaread ou os fluorímetros da linha Chelsea: Unilux e Trilux. Ambos contribuem para que as empresas de saneamento possam assegurar uma água de maior qualidade para a população. O Trilux, um fluorímetro digital de campo totalmente inovador, é capaz de mensurar três parâmetros simultaneamente: clorofila, o pigmento ficoeritrina e o pigmento ficocianina, os dois pigmentos das maiores classes de cianobactérias.

Monitoramento da água é essencial

Para o pesquisador José Luiz Negrão Mucci, o monitoramento da represa é fundamental. “A importância do monitoramento é essencial para a gente saber como as coisas estão variando ao longo do tempo, se a qualidade da água está estável, se está melhorando ou piorando. Do ponto de vista acadêmico recomenda-se que o monitoramento seja feito pelo menos uma vez ao mês, até com mais frequência do que isso se possível”.

Banderali comenta que embora existam equipamentos que monitorem as condições da água da Billings, tanto da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) como da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), não conhece a existência de um plano de identificação de emergência para o caso de uma possível contaminação com produtos tóxicos ou combustíveis. “A obra do Rodoanel trouxe uma situação desagradável à Billings por aumentar expressivamente o risco de acidentes rodoviários,  o que pode resultar em uma contaminação direta e rápida da água por combustíveis ou químicos em geral que trafegam naquela rodovia. Próximo a uma obra como essa, seria bastante interessante  a implantação de instrumentos que monitorem a contaminação das águas, em caráter imediato, e de maneira mais ampla possível no que tange a toxicidade”, opina ele.

Importância da conscientização

Para o docente da Faculdade de Ciências Médicas da USP, o que as pessoas podem fazer para minimizar a poluição na represa Billings é muito simples: é uma questão de educação. “Educação no sentido mais comum do termo: é não jogar lixo na represa; deve-se evitar também a entrada de esgoto na água da Billings. Então, tanto o poder público quanto a população em geral podem ajudar evitando o lançamento de resíduos sólidos e esgoto naquele manancial”.

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