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Publicado em 12/09/2012
Muita terra, pouca água

Agricultura é maior consumidora de água no país e também o setor que mais desperdiça. Tecnologia pode colaborar para monitorar a quantidade de água aplicada

O Brasil é considerado um verdadeiro berço das águas. Cerca de 12% da água doce do planeta está no país, mas, mesmo assim, os recursos hídricos disponíveis não estão sendo bem aplicados. De acordo com uma pesquisa da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), cerca de 70% da água do Brasil é utilizada na agricultura e quase metade dessa água é desperdiçada.

De acordo com o engenheiro florestal, mestre em Ciências Florestais e pesquisador da Embrapa Meio Ambiente, Laerte Scanavaca Junior, “o Brasil é um país privilegiado, o que causa a falsa impressão de que temos abundância de água, mas na verdade essa água está mal distribuída”. Segundo ele, 60% da superfície hídrica do Brasil e 72% dos recursos hídricos (superficiais e subterrâneos) estão na Amazônia. “A água está mal distribuída porque está praticamente toda na Amazônia. Cerca de 50% da água das chuvas que atingem a região Sul e Sudeste vem da floresta Amazônica, então esse costume que o agricultor tem de fazer o mau uso da água, vem muito da ideia de que toda água está aqui e nunca vai acabar, e não é bem assim”.

Na agricultura, a irrigação é considerada uma das grandes vilãs do desperdício da água no Brasil, já que o manejo inadequado dos agricultores tem levado ao consumo exagerado do recurso natural. Scanavaca explica que, apesar da imensa quantidade desperdiçada, o Brasil utiliza pouco a irrigação, técnica que ele considera uma saída para o aumento da produtividade no campo. “Somente 5% a 6% das terras brasileiras são irrigadas. Em países de primeiro mundo, esse número chega a 20% a 30%. A produtividade em área irrigada é bem maior do que em áreas sem irrigação, onde se utiliza somente a captação da chuva”.

De acordo com o engenheiro agrônomo e especialista em instrumentação ambiental, Mauro Banderali, a utilização de tecnologias é indispensável para o melhor aproveitamento dos recursos hídricos pelos agricultores. “Através de equipamentos como estações linimétricas, que medem a vazão de rios e lagos, medidores de nível d’água, pluviômetros e medidores de precipitação, capazes de mensurar o volume das chuvas; é possível otimizar a quantidade de água aplicada no cultivo e colaborar para que o produtor aplique a quantidade certa de água na hora de irrigar”.

Como fonte alternativa para o agricultor que pretende utilizar melhor a água no processo de produção, o pesquisador da Embrapa sugere a captação da água da chuva, recurso que também é pouco utilizado pelos produtores brasileiros. Scanavaca indica a utilização de cisternas, tanto para os produtores do semiárido brasileiro como para as outras regiões. “É uma técnica que não é muito cara, de R$500,00 a R$1 mil, dependendo do tamanho da caixa, o produtor realiza a captação e vai ter dois, três mil litros de água por ano, de graça”.

Agricultura ou cidade, qual é prioridade?

Com tanta água sendo desperdiçada, poluída e contaminada tanto pelos produtores rurais como pelas indústrias, sobra pouco para o abastecimento das cidades. Para Banderali “é necessário que a agricultura, assim como os outros setores da cadeia de produção, apliquem formas de uso inteligente da água e invistam na sua reutilização. As cidades, a agricultura e o setor industrial estão competindo e irão competir cada vez mais pelos recursos hídricos”.

Segundo Scanavaca, dado da Organização das Nações Unidas (ONU) mostra que cerca de 60 a 70% da água do planeta é direcionada para as atividades rurais. “Sobra de 30 a 40% para abastecer o consumo pessoal, a indústria e o comércio, ou seja, vai faltar água para alguém”.

Para o engenheiro florestal, é necessário analisar esse dado a partir de uma bacia hidrográfica: quanta água a indústria utiliza da bacia, quanto a agricultura capta e quanto é usado para o abastecimento das cidades. “Todos os setores devem sentar e avaliar o que é prioridade”. Ele explica que a prioridade deve ser sempre o abastecimento humano e animal, mas os outros setores ainda não chegaram em um consenso em relação às outras prioridades. “Tem agricultor que vai produzir batata, o outro vai produzir milho, tem uma indústria fabricando carro, outra fazendo papel: todo mundo vai precisar de água. A água é insumo para qualquer atividade: humana, agrícola, industrial. Mas quem tem direito a quanto, todos terão que fazer uma negociação para se chegar num consenso. Primeiro deve-se matar a sede de quem precisa e depois, negociar igualmente e dividir com todos os setores”, afirma Scanavaca.

Conforme explica Mauro Banderali, o uso irracional dos recursos hídricos afeta a exploração de águas subterrâneas e superficiais. “Cerca de 90% da água do consumo doméstico volta para os rios e aquíferos com algum tipo de poluição, imprópria para consumo. Na agricultura, os aquíferos também estão sendo contaminados, seja em razão do descarte de produtos preparados e não aplicados, seja pela lavagem de alguns tipos de embalagens, ou então pela evaporação ou superaplicação de produtos contaminando o solo e as águas". Entre 2010 e 2011, o Brasil comercializou mais de um bilhão de litros de agrotóxicos (Anvisa), tendo sido o segundo maior mercado mundial e o que mais cresce.  “Infelizmente, algumas moléculas são demasiadamente estáveis e acabam passando intactas pelos tratamentos de água, sendo levadas à mesa sem uma devida detecção ou controle”, completa o especialista.

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