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Notícias > Conhecimento ambiental não é sinônimo de ação

Publicado em 14/08/2007

          Aquecimento global, mudanças climáticas e camada de ozônio já fazem parte do vocabulário cotidiano, inclusive de crianças. Mas por quê, mesmo com tanta informação, algumas pessoas insistem em se comportar como se nada estivesse acontecendo? O interesse nessa resposta levou a professora de Educação Ambiental da Universidade de Brasília (UnB), Cláudia Márcia Lyra Pato a escrever a tese: "Comportamento Ecológico: relações com valores pessoais e crenças ambientais". De acordo com a ambientalista, “ter conhecimento a respeito de um problema não leva necessariamente à ação voltada para sua resolução. O grande desafio para os pesquisadores e os educadores ambientais está exatamente no hiato existente entre a informação e a percepção do problema, a predisposição (ou intenção) de agir e a mudança propriamente dita dos hábitos e dos comportamentos cotidianos, muitas vezes incoerentes com a chamada consciência do problema”.

          Cláudia trabalha com Educação Ambiental desde 1996. Durante suas atuações com diversos grupos sociais, sempre observou as relações das pessoas com o meio ambiente. “É importante compreender o comportamento do ser humano em relação ao ambiente e o que o influencia. Assim, poderá se propor estratégias de Educação Ambiental mais eficientes, que contribuam para a sustentabilidade da vida no planeta”, explica. 

          Atualmente há muita ênfase às grandes questões ambientais e pequenos cuidados que, no dia-a-dia, poderiam fazer a diferença têm sido deixados de lado. “Problemas mais específicos como a questão dos resíduos sólidos urbanos (lixo), o uso da água ou da energia e as condições sócio-ambientais de sua localidade, entre outros, geralmente são desconhecidos e ignorados”, afirma Cláudia. A ambientalista explica que “existem diversos aspectos por trás de um comportamento complexo, como o associado ao meio ambiente. Estes requerem atenção quando se pretende, por exemplo, modificá-los. A relação entre os aspectos cognitivos (valores, crenças, conhecimento a respeito de algo), afetivos (empatia e simpatia) e comportamentais (ações) é complexa e uma mudança só será efetiva se esses elementos forem considerados. Na vida cotidiana, muitos comportamentos são automatizados, criando hábitos, o que dificulta ainda mais a aplicação dos conhecimentos e das informações que se possui. Desse modo, mesmo quando alguém está bem intencionado às vezes age de forma contraditória e incoerente com essa intenção, porque está agindo de forma automática”.

           

Educação ambiental

 

Pessoas com maior nível de escolaridade, em sua maioria, demonstram uma maior preocupação com o bem-estar do planeta. Porém, a educação ambiental ou a participação em atividades que tenham por objetivo o cuidado e a proteção do meio ambiente são ferramentas para difundir a consciência ecológica nos diversos níveis sócio-econômicos. “É fundamental agir em diversas frentes e utilizando linguagens diversificadas, considerando os indivíduos em sua totalidade, ou seja, possuindo capacidade de informação, valores e princípios (cognição), sentimentos (afeto) que precisam ser tocados”, acrescenta.

Na opinião da ambientalista a escola exerce papel fundamental. A educação ambiental é obrigatória nos currículos do ensino fundamental e agora se estende a todos os níveis de ensino.  “Para que a escola possa cumprir seu papel é necessário capacitar seus professores. Além disso, é importante agir de maneira coerente e ultrapassar o estereótipo de que educação ambiental se resume em plantar árvores, fazer horta no fundo da escola, fazer uma gincana para coleta de latas de alumínio, entre outros. É preciso que toda a escola trabalhe de forma integrada e não apenas os professores de ciências, geralmente os encarregados de tratar da temática”, ressalta Cláudia. Ela orienta os professores a abordarem os temas ecológicos a partir de situações-problema ou de temas que permitam  a crianças e adolescentes relacionarem as questões ambientais a seus cotidianos.

Não apenas as crianças podem ser ensinadas. “Embora os mais velhos muitas vezes tenham dificuldade de transformar valores e comportamentos já arraigados e automatizados, numa visão de mundo em que os problemas ambientais não eram considerados, têm a seu favor a maturidade e a capacidade de pensar nos outros, o que é fundamental na educação ambiental”. Para ela, a dificuldade em se conscientizar a juventude, se dá por causa da rebeldia característica dessa fase da vida. “Os mais jovens, apesar de estarem vivendo o momento de crise e de serem expostos freqüentemente a informações, vivem uma fase de desafios, de aventuras e de transgressões, o que pode dificultar ações pró-ecológicas”.

 

América Latina

 

         “A população do Brasil mais escolarizada e mais bem informada tem conhecimento a respeito de temas como aquecimento global e camada de ozônio. Entretanto, a grande maioria dos brasileiros possui baixa escolaridade e nem sempre tem acesso às informações. Muitas vezes são capazes de citar esses nomes, mas sem compreendê-los e sem capacidade de utilizá-los de maneira correta”, analisa Cláudia. “Em estudo recente com pesquisadores de diversos países, pude identificar que os brasileiros, e os latino-americanos de modo geral, apresentavam tendência a maior preocupação ambiental e se atribuíam maior consciência ambiental do que os europeus ou os norte-americanos. Entretanto, essa percepção pode ser afetada, por exemplo, por uma superestima dos brasileiros, em oposição a um maior rigor por parte dos europeus e dos norte-americanos”, conclui a ambientalista.

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