Notícias > Planta brasileira remedia solos contaminados por cádmio
Pesquisadora descobre planta capaz de absorver substancia tóxica
Em entrevista para o InfoAmbiental, a bióloga Divina Aparecida Anunciação Vilhalva, pesquisadora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), conta como descobriu que a planta Galianthe grandifolia (Rubiaceae), típica do Cerrado Brasileiro, é capaz de remediar solos contaminados por cádmio. Um estudo que se transformou em sua tese de doutorado.
Como surgiu a pesquisa?
Venho trabalhando com as plantas nativas do Cerrado desde o mestrado. Mas só no doutorado fui à busca de plantas nativas que fossem capazes de extrair metais pesados do solo. Optei por estudar as espécies que apresentam sistemas subterrâneos* espessados (estrutura comum em várias plantas de Cerrado), supondo que esta característica já seria uma estratégia adaptativa das mesmas para suportar os estresses naturais do ambiente (como secas prolongadas, solos pobres em nutrientes, entre outros).
Qual a importância desta descoberta?
A importância dessa descoberta está no fato de ser uma planta nativa do Cerrado, um bioma que está acabando sem que se conheça todo potencial da sua biodiversidade. Além disso, este é um bioma que ocupa/ocupava parte significativa do território brasileiro, portanto, seria interessante recuperar possíveis áreas contaminadas com plantas naturalmente adaptadas as condições climáticas e de solo das mesmas. Assim, a importância da descoberta está em mostrar que uma planta nativa do Cerrado possui elevada capacidade de absorção de cádmio, capacidade esta que a coloca entre as plantas hiperacumuladoras de Cádmio (plantas que acumulam acima de 100 mg Kg -1), categoria composta por poucas espécies.
Além dela, outras nativas também têm essa ação?
De um modo geral, acredito muito no potencial das plantas nativas. Mas testei apenas duas plantas no meu doutorado e, apesar da outra espécie (Campuloclinium Chlorolepis - Asteraceae) não ter sido considerada uma planta hiperacumuladora de Cádmio, ela acumulou 22 mg Kg -1, que é também um valor significativo, pois para várias espécies este seria um valor extremamente tóxico.
Quais foram os resultados da pesquisa nos testes realizados com a planta?
Vários testes foram realizados com a planta, desde a taxa de crescimento da planta, todas as alterações morfológicas e anatômicas ocasionadas pelo excesso do metal foram documentadas, foram investigados a presença dos fungos micorrízicos arbusculares e outros fungos presentes em associação com as raízes das plantas. Em especial, constatou-se que Galianthe grandifolia acumula em média 120 mg Kg-1 nos tecidos da parte aérea e 300 mg Kg-1 de Cd na parte subterrânea, sendo considerada Hiperacumuladora de Cádmio.
Ela absorve qualquer tipo de metal pesado? Como e onde pode ser aplicada?
Foi testada apenas a resposta pela contaminação por Cádmio. Mas os testes foram conduzidos em solos de cerrado com altas concentrações de Alumínio (também fitotóxico, mas naturalmente presente no solo). A aplicação ainda depende de mais estudos, mas em princípio seria em solos contaminados com cádmio.
De que forma ocorre a contaminação por cádmio?
Por meio de várias fontes, como resíduos de indústrias de fundição, solda, revestimento metálico, galvanoplastia, fabricação de plásticos (coloridos) e tingimento de tecidos. Também está presente em baterias de celulares, pilhas e esgotos urbanos. Na agricultura está presente em fertilizantes e pesticidas.
Há como minimizar a contaminação durante a ação?
Sim, fazendo o tratamento adequado dos resíduos industriais, seja ele sólido, líquido ou gasoso, antes que esses resíduos cheguem ao meio ambiente. É preciso evitar também o descarte incorreto, principalmente, de pilhas e baterias de celulares velhas. Atualmente já existem alguns locais de coletas para estes materiais.
* O termo “sistema subterrâneo” é mais apropriado para se referir aos órgãos subterrâneos das plantas, visto que para muitas delas este não é composto apenas por raízes.