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Dicas e Soluções > Caracterização do risco de exposição a benzeno e ciclo-hexano em atividades de manutenção

Publicado em 22/02/2017

CARACTERIZAÇÃO DO RISCO DE EXPOSIÇÃO A BENZENO E CICLO-HEXANO EM ATIVIDADES DE MANUTENÇÃO E PROCEDIMENTOS DE PARADA EM PLANTA PETROQUÍMICA  

ALBERTINHO BARRETO DE CARVALHO E MINA KATO, Pesquisadores da FUNDACENTRO/ Centro Regional da Bahia. 

Foi realizada a determinação de alguns hidrocarbonetos numa planta petroquímica produtora de caprolactama a partir do benzeno (BZ) e do ciclo-hexano (CH). Foram encontrados até 429mg/m3 (124,7ppm) de CH e 140mg/m3 (43,8ppm) de BZ em amostragem dinâmica de curto tempo, executada durante algumas atividades de manutenção, tais como raqueteamento, abertura de flanges e carregamento de carretas. Amostras coletadas em período de produção normal sem atividade de manutenção evidenciaram níveis de até 21mg/m3 (6,6ppm) de BZ ao redor de uma coluna onde era efetuada a sua destilação. Considerando a tendência internacional de se reduzir a exposição de trabalhadores, em especial a agentes carcinogênicos, estes resultados, embora preliminares, devem ser avaliados com cautela.

1. INTRODUÇÃO

Foram determinados os níveis de contaminação do ar por benzeno e ciclo-hexano em uma planta petroquímica em dois momentos: durante a produção normal e na fase da preparação de equipamentos para manutenção. Esta fase mereceu especial atenção, pois é quando se exige a presença constante de trabalhadores na área e são executadas tarefas em alto risco de exposição. Para iniciar o trabalho de avaliação ambiental foram realizados primeiramente estudos sobre o processo produtivo da empresa, com levantamento de dados sobre ciclos de produção, equipamentos usados, produtos químicos empregados e suas propriedades. Para tanto, além de bibliografia especializada, foram consultados os seguintes documentos fornecidos pela empresa: 

• relatório para obtenção de licen- ça de operação no Centro de Recursos Ambientais, o órgão estadual de fiscalização do meio ambiente;

• fluxograma de processo das vá- rias unidades e áreas (flow sheet);

• balanço de material;

• P & Id, o diagrama de processos e instrumentação;

• cronograma de parada geral da empresa. Em seguida, foram realizadas visitas preliminares à área para reconhecimento, em campo, das unidades e equipamentos. A empresa produz notadamente caprolactama a partir de ciclo-hexano que, por sua vez, é obtido em sua maior parte por meio de hidrogenação do benzeno (Figura 1). O ciclo produtivo está dividido em unidades de operação, localizadas em áreas distintas, assim discriminadas:

• hidrogenação de benzeno (denominada doravante de A);

• oxidação de ciclo-hexano (B);

• oximação de ciclo-hexanona (C);

• produção de caprolactama (D);

• cristalização de sulfato de amônio (E).

Além das unidades de operação, existem as áreas de tancagem, de separador de óleo/água para efluentes industriais tipo API, ensacamento e armazenagem de caprolactama, laboratórios, setores administrativos etc. São utilizados no processo: benzeno, ciclo-hexano, hidrogênio, amônia, ácido sulfúrico (inclusive a forma com 6% de trióxido de enxôfre - chamada oleum), hidróxido de sódio (soda cáustica), ácido fosfórico, tolueno, ácido nítrico, além de catalisadores que são em sua maioria compostos inorgânicos. A empresa também produz sulfato de amónio, além de mistura de álcoois leves e misturas de ácidos e ésteres orgânicos "pesados". 

Figura 1. Produção de caprolactama a partir do benzeno (Pozzoli & Mangueri, 1986)

O benzeno é armazenado na área de tancagem da empresa, entrando como insumo na unidade A. Pode aparecer como impureza do ciclo-hexano em teores de até 200 partes por milhão em volume. Na unidade D, o benzeno é utilizado como solvente para purificar a lactama. Nessa etapa, a perda estimada no projeto original era de 14kg de benzeno por tonelada de lactama produzida. Atualmente, com modificações no projeto, a perda de benzeno está em torno de 4,8kg, por tonelada de lactama produzida, ou cerca de 675 litros de benzeno por dia. Parte deste benzeno "perdido" é queimado em fornalha na unidade de oxidação do ciclohexano, parte é emitido no ar ambiente e parte permanece dissolvido em resíduo que é levado ao separador óleo/água.

 Com base nas informações levantadas sobre o ciclo produtivo da empresa, foram identificados os locais com maior probabilidade de ocorrência de emissões de benzeno e onde são executadas atividades com possível exposição dos trabalhadores a esta substância. A avaliação ambiental aqui relatada restringiu-se a esses locais, por terem sido considerados prioritários, e teve os seguintes objetivos:

• obter conhecimentos preliminares sobre algumas situações de contaminação ambiental durante as fases' de produção e de preparação de equipamentos para manutenção;

• obter informações preliminares sobre os níveis de exposição ocupacional a benzeno durante a realização de algumas atividades ou fases do processo, em particular aquelas relacionadas com a parada.  

2. MATERIAL E MÉTODOS 

As amostras de ar foram coletadas por duas técnicas: pessoal e de ponto fixo (Leidel, Buch & Lynch, 1977).

A amostragem pessoal foi adotada para avaliar a exposição do trabalhador durante a execução de operações, como abertura de bocas de visita de equipamentos, raqueteamento de linhas, inspeção de níveis de líquidos em tanques, transferência de produtos etc. Nesses casos foi feita amostragem de curta duração, cobrindo o período de tempo em que a operação foi executada.

A amostragem em ponto fixo foi adotada na avaliação de ambientes para os quais se dispunha de indicações da possibilidade de acumulação de contaminantes, considerando o tipo de fase operacional e a atividade ali realizada, bem como o padrão de deslocamento de massas de ar.

Nestes locais, embora rotineiramente não seja observada a permanência de trabalhadores por longos períodos de tempo, podem ser realizados serviços de manutenção.

Em alguns casos foram executadas concomitantemente coletas de amostras pessoais e em ponto fixo.

Escolheu-se o carvão ativo como leito para reter, por adsorção, os hidrocarbonetos eventualmente presentes no ar, usando dois tipos de dispositivos amostradores (Leidel, Buch & Lynch; Pozzoli & Maugeri)

A capacidade do carvão ativo de adsorver compostos orgânicos depende da temperatura e umidade relativa do ar e da competitividade entre os diversos componentes do ar amostrado. Estes fatores devem ser levados em conta, associados à duração da coleta de amostra e vazão da bomba, para evitar saturação do adsorvente contido no tubo amostrador e as consequentes perdas contaminantes eventualmente presentes no ar amostrado. Para evitar estas perdas, tubos do tipo jumbo foram usados preferencialmente aos tubos do tipo standard, pois estes últimos contêm menor quantidade de carvão ativo. 

(...)

O intervalo de tempo decorrido entre a coleta e a análise das amostras foi de no máximo 5 dias. Esse tipo de amostra se mantém estável sob refrigeração por até 2 semanas (Niosh, 1984).

Adotou-se método analítico já descrito (Niosh, 1984), adaptado aos recursos e condições existentes nos laboratórios da FUNDACENTRO/BAHIA e às condições ambientais predominantes na região metropolitana de Salvador.

A dessorção química dos analitos retidos no carvão ativo foi feita com dissulfeto de carbono, e a posterior análise de benzeno e ciclo-hexano executada em cromatógrafo a gás Intralab, modelo 3300, com detetor de ionização de chama, programação de temperatura e coluna DB-WAX de 30m de comprimento, 0,55mm de diâmetro interno de 0,lum de espessura de filme.

Nessas condições, os limites de detecção de benzeno e ciclo-hexano em dissulfeto de carbono são, respectivamente, 3,3mg/l e 10mg/l. Os coeficientes de variação médios para os valores estão em torno de 5%.

A eficiência de adsorção/dessorção, chamada de eficiência de recuperação, foi determinada experimentalmente, tendo-se encontrado valores que concordam com os encontrados na literatura internacional (Pozzoli & Maugeri; Niosh; Carvalho, Andrade & Kato, 1990). Os resultados apresentados no item 3 adiante foram calculados adotando-se os valores de eficiência de 97% para o benzeno, e 100% para o ciclo-hexano.

Estabelecidos os objetivos e a estratégia da avaliação ambiental e se lecionados o material e os métodos adequados para coleta e análise de amostras de ar, conforme descrito no item 2, foi executada, então, a amostragem nos locais e momentos previamente definidos.

O tipo de avaliação realizada pela FUNDACENTRO/URBA nessa oportunidade é diferente do que se poderia preconizar como programa de monitoramente ambiental a ser realizado pela empresa em suas instalações. 

3. RESULTADOS

Os resultados de análise de benzeno nas amostras de ar coletadas estão apresentados nas Tabelas 1,2,3 e 4. Os resultados de análise do ciclo-hexano estão nas Tabelas 5 e 6.

Nestas tabelas, cada ponto de coleta de amostra está identificado por um símbolo que representa algum equipamento situado nas proximidades daquele ponto, conforme se encontra nos fluxogramas de processo e P&Id da indústria. A identificação do ponto de coleta, feita dessa maneira, visa simplesmente localizá-lo na área avaliada, e nem sempre reflete o intuito da coleta.

As amostras 11, 12 e 13, referidas na Tabela 3, foram coletadas usandose tubos de carvão ativado do tipo standard. Todas as demais amostras foram coletadas com tubos do tipo jumbo.

(Clique aqui pra melhor visualizar as tabelas do artigo)

4. DISCUSSÃO E CONCLUSÕES

Na Tabela 1 apresentam-se os valores de concentração de benzeno encontrados na unidade A, nos dias 3 e 4 de dezembro de 1990. Nesta unidade o benzeno é usado como insumo.

Durante esses dias, a produção da unidade esteve em carga máxima. Não foi detectado no local o odor característico de hidrocarboneto aromático.

Na Tabela 2 encontram-se os valores de concentração de benzeno obtidos na unidade D, nos dias 3 e 4 de dezembro de 1990, durante processo normal de produção, adotando técnica de amostragem em ponto fixo: nesta unidade o benzeno é utilizado como solvente de extração.

As amostras coletadas no dia 3.12.1990 nas imediações das colunas de extração de caprolactama (DC1) e de destilação de benzeno (DV4) revelam teores de benzeno no ar superiores aos do dia 4.12.1990. O fato de ali se realizar processo em ciclo contínuo poderia levar à suposição de que qualquer emissão de produto químico e sua concentração no ar fossem constantes. No entanto as variações de parâmetros ambientais, como temperatura, umidade relativa, direção e velocidade dos ventos podem ocasionar grandes flutuações na concentração de uma substância no ar.

Nestes pontos, a velocidade do vento no dia 4 apresentou valores predominantemente mais altos (na faixa de 50 a 400 pé/m) durante a amostragem do que no dia 3 (na faixa de 30 a 100 pé/m), o que pode ter contribuído para a dispersão maior do contaminante e, consequentemente, para a redução dos níveis de benzeno nos locais de coleta.

A amostragem de ar do dia 3 foi realizada durante o período noturno, e a do dia 4 no período diurno. A temperatura ambiente, durante a amostragem, no segundo dia esteve 2 a 5o C mais elevada, e a umidade relativa de 10% a 20% mais baixa do que no primeiro dia.

Somente com estes dados não fica excluída a possibilidade de ocorrerem níveis de contaminação do ar mais elevados. Também não é possível afirmar que o limite de tolerância do benzeno (Brasil) correspondente a 8ppm ou 24mg/m3, não possa ser ultrapassado.

Emanações de benzeno foram esporadicamente percebidas pelo olfato durante a coleta de amostras de ar na unidade. Comparando as Tabelas 1 e 2, observa-se que os valores de concentração de benzeno encontrados na unidade A, nos dois dias avaliados, são bem menores que os encontrados na unidade D. Isso parece confirmar a hipótese de que as perdas para o ambiente, do benzeno usado como solvente, já mencionadas no item 1, são bem maiores que suas perdas como insumo. No entanto, o número de dados obtidos é pequeno para que se possa fazer afirmação categórica a respeito.

As amostras referidas na Tabela 3 foram coletadas durante a etapa de esgotamento de benzeno do DC-1 para carretas, onde a substância permaneceu durante o período de manutenção. A temperatura ambiente durante a coleta aumentou de 28,5° C para 32,5° C e a umidade relativa do ar diminuiu de 80% para 64%.

Durante a coleta das amostras 11, 12 e 13, o trabalhador 1 realizou atividades, permanecendo preferencialmente antes da fonte emissora (carreta) no sentido do vento, exceto nos exatos momentos de controle visual do nível da carreta, quando se aproximava da boca de visita. Além da atividade citada, este trabalhador realizou engate e desengate do mangote na carreta, acionamento de bomba e abertura e fechamento de válvulas ao lado da carreta e na unidade D.

Além da boca de visita, o local de engate do mangote à carreta é um ponto de emissão de benzeno, durante os momentos de conexão e desengate. Com a amostra 14, coletada neste ponto, foi acompanhada a transferência de benzeno para a terceira carreta, que aconteceu sem dificuldades operacionais. A amostra 15, por outro lado, foi coletada durante uma operação desse tipo, em que se deparou com dificuldades para vedação adequada da conexão. Engates e desengates foram realizados sucessivamente até não se observar gotejamento de benzeno na conexão. Isso explica o teor mais alto da substância química encontrado no ambiente com a amostra 15.

Nas amostras 12 e 13, ambas coletadas com tubos do tipo standard, ocorreu saturação do carvão. Encontrou-se para cada uma na camada de controle, respectivamente, 16,8% e 58% da massa de benzeno encontrada na camada analítica. À primeira vista pode parecer estranho que as concentrações relativamente baixas de benzeno no ar, amostrado por período de tempo relativamente curto e com umidade relativa entre 64% e 80%, o carvão tenha sido saturado a ponto de invalidar uma amostra, como foi o caso da 13. Isso pode ser observado, no entanto, quando há picos de concentra- ção muito alta por breve período de tempo, seguida de níveis baixos de contaminação do ar amostrado, porque dessa maneira o fluxo de ar contínuo pode carregar o contaminante adsorvido na camada analítica para a segunda camada, ou até mesmo de volta para o ambiente.

Durante a coleta das amostras de números 1 a 10 não foi detectado odor de ciclo-hexano nas unidades A e D. No dia 4.12.1990, observou-se que poderia estar havendo eliminação de ciclo-hexano pelo vent do vaso AV6, que é um dispositivo tubular voltado para fora da unidade A, em direção à unidade D. Os resultados de análise de ciclo-hexano nestas amostras, que estão apresentados na Tabela 5, são baixos, mas os das amostras coletadas no dia 4.12 são ligeiramente superiores aos das amostras coletadas no dia 3.12.

A Tabela 6 apresenta resultados de análise de amostras coletadas em diferentes fases operacionais, as amostras do dia 4.12 foram coletadas durante operação normal, enquanto nos dias 8 e 9 foram coletadas durante o período de parada operacional.

A coleta da amostra 24 acompanhou apenas os 19 minutos finais da operação de manutenção no filtro de sucção da bomba BP5A, que tem duração aproximada de 2 horas. A coleta da amostra foi realizada a cerca de 1 metro do local onde quatro trabalhadores executavam o serviço. A velocidade do vento naquele momento era alta (em torno de 400 pé/m). É possível que níveis mais altos de contaminação de ciclo-hexano no ar tivessem sido encontrados se toda a atividade tivesse sido acompanhada com amostragem pessoal ou com o ponto de coleta da amostra fixado mais perto da fonte. O resultado de análise da amostra 28 é um indício para esta suposição. Ela foi coletada adotando-se a técnica pessoal, exatamente durante os processos de abertura de flanges e raqueteamento de linhas no BV4 até ó fechamento, por 25 minutos. O teor de ciclo-hexano encontrado no ar com esta amostra foi cerca de 10 vezes maior que o encontrado com a amostra 24.

As amostras 25,26 e 27 foram coletadas concomitantemente, durante o esgotamento de ciclo-hexano dos equipamentos para o tanque BT2A. A amostra 27, que evidenciou concentração mais elevada do que as demais, foi coletada perto de uma canaleta onde havia eliminação de vapor d'água e odores diversos.

No dia 8.12 os odores na unidade B estavam bastante intensos e revelavam a presença de uma mistura de substâncias no ar. De fato, substâncias hidrossolúveis e voláteis como ácidos orgânicos, ésteres e álcoois, além de ciclohexanol, ciclo-hexanona e um pouco de ciclo-hexano são eliminados nesta unidade pela canaleta, em direção ao separador óleo/água . Mesmo em produção normal (Tabela 6, dia 4.12), foram percebidos odores nesta área, enquanto nas unidades A e D (Tabela 5) não se percebeu odor algum.

Em indústrias que possuem instalações amplas a céu aberto, como as petroquímicas, a direção e velocidade do vento têm papel importante na dispersão de substâncias emitidas por diversas fontes.

Os ventos predominantes da região são de origem sudeste, mas durante o período de avaliação, deparou-se também com ventos leste e nordeste. Nos locais de amostragem foram determinados ventos de até 700 pé/m.

Uma situação de massas de ar estacionárias, praticamente sem vento, foi observada perto da meia-noite do dia 3.12.1990. Em situação como esta, o contaminante tende a se acumular ao redor da fonte. A dispersão das substâncias químicas lançadas no ar é favorecida nos patamares superiores das unidades, onde os ventos tendem a ser mais fortes que ao nível do solo. Nos pisos inferiores a dispersão dos contaminantes do ar é desfavorecida também em virtude de ocupação de espaços por equipamentos, que pode ocasionar zonas de turbulência e aprisionamento de massas de ar em zonas restritas.

Nas operações que foram acompanhadas pela FUNDACENTRO durante o procedimento de preparação para a parada, observou-se que a maioria dos trabalhadores portavam respiradores "combitox". Porém algumas irregularidades em seu uso foram notadas, como a do filtro para produtos inorgânicos durante exposição a substâncias orgânicas, e o transporte de equipamento a tiracolo ou no pescoço em atividades junto a pontos de emissão.

Os filtros usados nesses tipos de respirador adsorvem continuamente os contaminantes do ambiente, a partir do instante em que são retirados de seus invólucros lacrados.

O critério amplamente utilizado de substituir o filtro somente quando se percebe o odor usando a máscara é condenável, pois nessa altura já ocorreu a saturação do filtro e limiares de odor não estão habitualmente associados aos níveis seguros de exposição.

Uma revisão crítica realizada pela American Industrial Hygiene Association cita 61ppm como o "limite de detecção médio" (geometric mea n air odor threshold ) para benzeno, e os valores referidos estão entre 0,78 a 160ppm. Para o ciclo-hexano, o "limite médio" é de 780ppm, para valores compreendidos entre 0,52 a 784ppm (Odor..., 1989).

Fica claro pela amplitude dos valores observados disponíveis na literatura que é difícil padronizar a percepção olfativa e pelos valores médios propostos, que os valores limit e de exposiçã o (TLV-TWA) (Odor..., 1989 ; Occupational... , 1987; Threshold..., 1991) são inferiores a eles.

Se, de um lado, questiona-se a eficiência de proteção que a máscara oferece durante algumas atividades prolongadas que exigem espaço físico, não se justifica o uso indevido do equipamento, que pode trazer falsa idéia de segurança.

Não resta dúvida de que, nesses casos, se deve preconizar melhorias de ordem coletiva para minimizar a exposição, sem depender exclusivamente dos EPI's para proteção do trabalhador.

Os valores de concentração obtidos com este trabalho não se prestam à comparação direta com o limite de tolerância (LT) média ponderada de concentração do agente químico no ar para exposição de 8 horas diárias. Para isso, são necessários estudos mais aprofundados do sistema homem-ambiente-empresa, sobretudo no tocante ao tipo e a duração das atividades desenvolvidas pelos trabalhadores, além do nível de produção e jornada de trabalho atuais, para determinar o número de amostras de ar, bem como a duração e o momento de coleta adequados.

Por outro lado, a comparação com o valor máximo é possível, pois este é um valor que, de acordo com o anex o 11 da NR-1 5 (Notice..., 1990), não deve ser ultrapassado em momento algum da jornada de trabalho. A situação em que se verifica concentração superior ao valor máximo é considerada de risco grave e iminente.

Por definição, o valor máximo é igual ao LT do agente químico multiplicado por fator de desvio (Notice...). Para o LT de benzeno de 8ppm, o fator de desvio é 2. Então, o valor máximo para esta substância é 16ppm.

A amostra 18, coletada durante o raqueteamento da linha no DV5, revelou concentração de 44,lppm de benzeno no ar, cerca de 3 vezes superior ao valor máximo permitido. Este valor representa a média da concentração a que ficou exposto o trabalhador 3 no período de tempo em que realizou sua atividade, e que foi coberto pela coleta de amostra. Embora não tenham sido coletadas amostras pessoais para os outros três trabalhadores que realizavam a mesma atividade neste ponto, pode-se deduzir que eles estavam expostos a níveis semelhantes de benzeno.

Durante outras atividades de raqueteamento e algumas operações de esgotamento foram encontrados teores de benzeno e ciclo-hexano muitas vezes superior aos dos dias de produção normal (3 e 4.12.1990), mas abaixo dos valores máximos permitidos. Isso pode ser visto comparando as Tabelas 1 e 2 com a 3, e a Tabela 5 com a 6.

De forma geral, em atividades como abertura de flanges, raqueteamento de linhas, trocas de gaxetas e transferência de produtos para carretas, o trabalhador está sempre presente junto à fonte de emissão e o risco de exposição é alto.

É de consenso internacional que o limite de exposição ocupacional de 10ppm, equivalente ao limite de tolerância brasileiro de 8ppm (Brasil, s.d.) não garante proteção à saúde do trabalhador. A OSHA (Administraçã o de Saúde e Segurança Ocupacional) do Departamento de Trabalho nos Estados Unidos sancionou, em 1987, o limite de exposição permitido para 8 horas (PEL) em 1ppm, o limite para curta exposição (STEL) de 5ppm, e estabeleceu um nível de ação de 0,5ppm (Occupacional, 1987; OSHA, 1987). A ACGIH (Associação Americana de Higienistas Industriais do Governo) tem proposta recente de diminuir 100 vezes o limite de exposição - threshold limite value (TLV) - par a 0,lpp m ou 0,3mg/m 3 (Threshold..., 1991; Notice..., 1990).

Embora as atividades depressoras do sistema nervoso central e mielotóxica do benzeno fossem já conhecidas há longa data, a ação carcinogênica em razão da exposição por longo período a concentrações relativamente baixas da substância em ambiente de trabalho foi somente conhecida nos últimos 10 anos. Atualmente, esta substância é considerada um agente clastogênico e carcinogênico no homem.

A recomendação da ACGIH, para se adotar 0,lppm reside no fato deste valor ser menor que a concentração associada a danos genéticos em animais de laboratório e seres humanos, como, também, pela probabilidade de um indivíduo exposto a este nível de benzeno por 45 anos desenvolver leucemi a estar muito próxima daquela de um trabalhador não-exposto (Notice...).

À luz desses conhecimentos há que se assumir uma nova realidade. Por exemplo, os critérios de liberação de tanques e vasos para inspeção interna, realizada com medição dos níveis de oxigénio e de explosividade. Tais critérios deixam de ser adequados para prevenir a exposição de trabalhado res em atividades de manutenção, pois estas determinações não estão atualmente calibradas para verificar a existência de benzeno em concentrações tão baixas. Esse caso é ilustrado com a amostra 21, coletada no interior de um vaso de armazenamento de benzeno liberado para inspeção após o processo de steam out e permanência da boca de visita aberta por algumas horas. A concentração de benzeno encontrada nesse ponto foi de 0,5ppm, valor baixo diante de 8ppm, mas 5 vezes superior ao limite proposto de 0,lppm. Considerando este novo limite, o fator de desvio dado pela NR-15 será 3, reduzindo o valor máximo permitido de benzen o no ar de ambientes ocupacionais para 0,3ppm. Muitas das amostras coletadas nas áreas durante avaliação realizada pela FUNDACENTRO revelam valores que, de acordo com a nova realidade, indicariam situações de risco grave e iminente, enquanto pela ótica atual podem ser tidos como satisfatórios do ponto de vista legal. 

A probabilidade de um indivíduo apresentar câncer cresce com o aumento da frequência e tempo de exposição ao agente etiológico e com o aumento da dose absorvida pelo organismo. Exposições a altas concentrações de benzeno, mesmo que esporádicas, como em casos de acidentes e até em algumas atividades de manutenção, são fatores que levam ao aumento do risco de câncer. 

Há atividades como as do caldeireiro, que executa e supervisiona trabalhos de abertura de flanges, raqueteamento e outros, que obrigam o trabalhador a se expor seguidamente a teores variáveis de diferentes substâncias durante as 12 horas de jornada usual em paradas. 

O monitoramento ambiental e controle da emissão do benzeno mereceu um rigor muito maior em razão das características tóxicas. 

Recomenda-se, de modo geral, a adoção de medidas mais restritivas possíveis, para maior proteção da saúde do trabalhador, sem se ater exclusivamente a limites fixados pela legislação vigente. 

A introdução de algumas medidas de engenharia, como o sistema de captação de vapores durante carregamento de carretas, assim como a modificação da rotina de alguns procedimentos como a não-liberação de água de lavagem contaminada para canaletas abertas ao redor dos equipamentos ou estabelecimento de critérios baseados na Saúde do Trabalhador para liberação de equipamentos irão reduzir os níveis de contaminação evidenciados neste trabalho.

Fonte: Artigos, Revista Brasileira de Saúde Ocupacional - FUNDACENTRO

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